Com a 2ª pior cobertura de CAPS do país, DF segue ritmo lento para ampliar atenção à saúde mental
Placa mostra CAPS no DF. Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF Há mais de seis anos com a segunda pior cobertura de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) d...

Placa mostra CAPS no DF. Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF Há mais de seis anos com a segunda pior cobertura de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do país, o Distrito Federal conta com um total de 18 unidades e segue em ritmo lento para ampliar a rede extra-hospitalar de saúde mental. 🔎 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS): serviço de saúde voltado para o atendimento de pessoas com transtornos mentais graves e persistentes ou com sofrimento psíquico após uso prejudicial de álcool e drogas. No DF, há 0,54 CAPS para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde. O número é maior apenas que o da cobertura do Amazonas. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do DF em tempo real e de graça O índice permanece abaixo da taxa de cobertura nacional – de 1,13 CAPS/100 mil habitantes – e ocupa a mesma posição durante todo o mandato de Ibaneis Rocha (MDB), eleito em 2018 e reeleito em 2022. Ao mesmo tempo, o DF mantém 116 leitos psiquiátricos ativos – modelo que reproduz a lógica manicomial e é proibido na legislação federal e na lei distrital (entenda mais abaixo). Ao g1, a Secretaria de Saúde afirma que a cobertura não aumentou porque o crescimento populacional não foi acompanhado pela expansão da rede de serviços de saúde mental. Além disso, a pasta diz que a implantação de novos CAPS exige investimentos, contratação de profissionais especializados e tempo para adequação orçamentária e administrativa. 📌 A Secretaria de Saúde afirmou ao g1 que não é "possível aferir um valor exato do investimento em saúde mental na rede pública", mas estima que o investimento médio anual é em torno de R$ 285 milhões (veja nota completa no fim da reportagem). Há cinco novos CAPS previstos para 2026, segundo a Secretaria de Saúde. No entanto, apenas dois tiveram as obras iniciadas: um no Recanto das Emas e outro no Gama (veja abaixo lista completa de CAPS no DF). O investimento é de R$ 28 milhões, de acordo com a pasta. Segundo o psicólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Henrique Antunes da Costa, o baixo número de CAPS impacta no cuidado em saúde mental, já que os serviços são para garantir a atenção especializada. "Se há poucos CAPS, já quebra bastante do fluxo assistencial da rede que tem os CAPS como dispositivos fundamentais. Eles são os principais dispositivos especializados", aponta o professor. Como é a Rede de Atenção Psicossocial? Sem apoio público famílias buscam clínicas precárias Segundo o Ministério da Saúde, a Rede de Atenção Psicossocial, criada em 2011, engloba sete níveis: Atenção primária em saúde: UBSs, estratégia de saúde da família, consultório na rua, centros de convivência e cultura Atenção psicossocial especializada: CAPS Atenção de urgência e emergência: SAMU 192, UPA 24h, pronto-socorro em hospitais Atenção residencial de caráter provisório: unidade de acolhimento, serviço de atenção em regime residencial Atenção hospitalar: enfermaria especializada em hospital geral, serviço hospitalar de referência Estratégias de desinstitucionalização: serviços residenciais terapêuticos, programa de Volta para Casa Estratégias de reabilitação psicossocial: cooperativas sociais, empreendimentos solidários, iniciativas de geração de trabalho e renda No Distrito Federal, em relação aos serviços especializados, há: 18 CAPS 1 Centro de Orientação Médico Psicopedagógica (COMPP) 1 Adolescentro 2 residências terapêuticas 1 unidade de acolhimento 59 leitos clínicos em saúde mental 121 leitos psiquiátricos 121 psiquiatras 285 psicólogos Segundo Pedro Henrique Antunes da Costa, o Distrito Federal apresenta gargalos severos nos sete níveis, comprometendo o acesso à atenção psicossocial da população. "A RAPS [Rede de Atenção] no DF tem lacunas severas nos sete níveis de atenção. No nível de atenção básica, por exemplo, a gente tem poucos consultórios nas ruas, a gente não tem nenhum centro de convivência", diz o professor. Situação no DF Dobra a procura por atendimentos nos CAPS A demanda pelo atendimento psicossocial no DF vem crescendo nos últimos anos, segundo dados da Secretaria de Saúde. Em 2022, foram 212 mil atendimentos especializados em saúde mental no CAPS do DF. O número saltou para 354 mil em 2024, ou seja, um aumento de 66%. No primeiro semestre de 2025, foram 199.088 procedimentos nos CAPS do DF, uma média de 1.106 atendimentos por dia. Para quem busca atendimento, as portas de entrada são as equipes dos três Consultórios de Rua – em Ceilândia, Taguatinga e no Plano Piloto – e as UBSs. Já no segundo nível de atendimento, voltado a transtornos mentais graves ou uso de drogas e álcool, há 18 CAPS em funcionamento: 1 CAPS I: atende pessoas de todas as idades e fica em Brazlândia. 5 CAPS II: atende adultos e unidades ficam no Paranoá, Planaltina, Asa Norte, Taguatinga e Riacho Fundo. 1 CAPS III: atende pessoas adultas e funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados. Fica em Samambaia. Tem até 5 leitos para acolhimento noturno. 4 CAPS Álcool e Drogas AD II: atende pessoas a partir de 16 anos e há unidades no Guará, em Santa Maria, em Sobradinho e no Itapoã. 3 CAPS Álcool e Drogas AD III: atende pessoas a partir de 16 anos e funcionado 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados. Tem, no máximo, 12 leitos. As unidades ficam em Ceilândia, Samambaia e Asa Sul. 4 CAPSi: atendem crianças e adolescentes e ficam na Asa Norte, em Taguatinga, no Recanto das Emas e em Sobradinho. 🔎Para as crianças de 0 a 12 anos com sofrimento mental moderado, há o Centro de Orientação Médico Psicopedagógica (COMPP). Segundo o GDF, a fila de espera pelo atendimento é bem grande, e o primeiro atendimento demora cerca de dois anos. Criada em 1969, a unidade oferece atendimento ambulatorial, orientação médica, psicológica, pedagógica e social para as crianças. 🔎 Já para adolescentes de 12 até 17 anos com casos moderados de saúde mental ou vítimas de violência, ou que façam uso de substâncias psicoativas, há o Adolescentro. A unidade oferece atendimento ambulatorial multiprofissional e interdisciplinar, por meio de atendimentos individuais e em grupos. Residências terapêuticas Depois do atendimento no segundo nível da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), os pacientes podem ser encaminhados para outras esferas como serviços residenciais terapêuticos (SRT), unidades de acolhimento (UA) e hospitais gerais. Entenda abaixo: 🔎 Residência terapêutica: tem o objetivo de garantir residência para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou familiar egressas de internações psiquiátricas de longa duração. A vaga é vitalícia. No DF, há duas residências terapêuticas: uma feminina e uma masculina, com 10 vagas cada no Paranoá, que foram criadas em 2024. Atualmente, estão com capacidade máxima de lotação, com 10 residentes em cada. Há 83 pessoas na fila de espera, segundo a subsecretária de Saúde Mental do DF, Fernanda Falcomer. "Estamos manejando o impacto de muitos anos que não houve investimento na rede, tem pessoas aguardando há mais de 15, 20 anos esperando a residência terapêutica. A hospitalização tira questão do sujeito, usa uniforme, não prepara comida, tira a vontade", afirma a subsecretária. 🔎 Unidade de acolhimento: é uma residência temporária para pessoas acompanhadas no CAPS que demandam acolhimento terapêutico e protetivo. As UA contam com equipe qualificada e funcionam exatamente como uma casa. Oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento 24h, em um ambiente que funciona como uma casa por até no máximo 6 meses. No DF, há uma com 15 vagas que fica em Samambaia. Atualmente, 8 pacientes utilizam o serviço. A unidade de acolhimento, segundo a subsecretária de Saúde Mental, tem uma rotatividade alta. "Está sempre ocupada e lida com a questão da complexidade de álcool e drogas. Existe rotatividade por conta da complexidade do caso, mas sempre com a lotação máxima. A pessoa mora na UA e faz atendimento no CAPS, para melhorar questão da adicção e restabelecer vínculos trabalhistas, de renda, familiares, com a ajuda da equipe do CAPS para retomar a vida", afirma Fernanda. 📌Para cada 10 leitos em enfermarias especializadas em hospital geral, é preciso uma unidade de acolhimento com 15 vagas para adultos. No DF, por conta dos 59 leitos clínicos existentes (veja abaixo), o ideal seria, no mínimo, 10 unidades de acolhimento. 📌 Segundo o Ministério da Saúde, municípios com mais de 2,5 mil a 5 mil crianças e adolescentes com potencial uso de drogas ilícitas precisam de ao menos uma unidade de acolhimento infanto-juvenil. O DF não tem nenhuma unidade de acolhimento para crianças e adolescentes. Questionado sobre o parâmetro utilizado para quantificar crianças e adolescentes nesse contexto, a Secretaria de Saúde não respondeu ao g1 até a última atualização da reportagem. No entanto, com base na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2021, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada cinco jovens de 13 a 17 anos teve contato com drogas no DF. Ou seja: seriam necessárias, no mínimo, 10 unidades de acolhimento para crianças e jovens somente levando em conta o número de adolescentes. Atendimento hospitalar no DF No DF, os atendimentos de emergência em saúde mental em hospitais também aumentaram, segundo a Secretaria de Saúde: Em 2021, foram 21.276 atendimentos de emergência em saúde mental em hospitais. Em 2024, o número subiu para 48.764, um aumento de 129% em dois anos. De janeiro a abril de 2025, foram 14.074 atendimentos de emergência em saúde mental nos hospitais, uma média de 117 por dia. 🔎 Leito clínico em saúde mental: oferece tratamento hospitalar para casos graves relacionados a problemas de saúde mental ou uso prejudicial de álcool e drogas. É utilizado em crises, abstinências e intoxicações severas e as internações são de curta duração até a estabilização clínica. No DF, os 59 leitos clínicos em saúde mental estão divididos em oito hospitais, veja abaixo: Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB): 10 leitos Hospital Regional de Ceilândia (HRC): 3 leitos Hospital Regional do Guará (HRGu): 5 leitos Hospital Universitário de Brasília (HUB): 14 leitos Hospital Regional do Gama (HRG): 8 leitos Hospital Região Leste (HRL) no Paranoá: 3 leitos Hospital Regional de Sobradinho (HRS): 10 leitos Hospital Regional de Santa Maria (HRSM): 6 leitos 📌 É preciso um leito clínico de saúde mental para cada 23 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde. Ou seja, no DF, seriam necessários cerca de 130 – mais que o dobro da capacidade atual. Leitos psiquiátricos: sem data para sumir Contrariando uma lei local e uma lei federal, o DF ainda mantém 121 leitos psiquiátricos de longa permanência em funcionamento. Eles estão distribuídos em três hospitais: Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF): 36 leitos Hospital São Vicente de Paulo (HSVP): 83 leitos Hospital da Criança de Brasília José Alencar: 2 leitos Este tipo de leito não deveria existir, segundo: Uma lei distrital publicada há quase 30 anos que determina o fim desse tipo de leito em Brasília Lei federal sancionada em 2001, conhecida como reforma psiquiátrica, que prevê a extinção progressiva dos leitos para internação de longa permanência em manicômios e sanatórios no Brasil Mesmo após estas definições, os 121 leitos psiquiátricos continuam em funcionamento no DF. Nos hospitais gerais, como da Criança e o de Base, o leito é visitado sempre por psiquiatras e não há um clínico geral. Já no Hospital São Vicente de Paulo, o único hospital psiquiátrico do DF e onde a maioria dos leitos está concentrada, a internação é de longa permanência. Há anos, o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, vem denunciando más condições da estrutura do HSVP e tratamento desumano dado aos pacientes. Em menos de quatro meses, duas pessoas morreram no hospital: Eva de Oliveira: aos 52 anos, foi encontrada morta em um dos banheiros da unidade, com indícios de parada cardíaca, no dia 22 de abril de 2025. Raquel Franca de Andrade: aos 24 anos, morreu em 25 de dezembro de 2024. Entrada do Hospital São Vicente de Paulo, primeira maternidade de Taguatinga, no Distrito Federal Raquel Morais/G1 Precisa de ajuda? O ideal é sempre procurar ajuda de um profissional habilitado. O Ministério da Saúde divulga os seguintes canais: CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde). Veja aqui a UBS mais próxima e veja aqui o CAPS mais próximo. UPA 24h, SAMU 192, Pronto Socorro, Hospitais Centro de Valorização da Vida – telefone 188 (ligação gratuita). O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip, 24 horas por dia, todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre a ligação gratuita. O que diz a Secretaria de Saúde "A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) esclarece que organiza a atenção à saúde mental por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída nacionalmente pela Portaria GM/MS nº 3.088/2011 e consolidada nas Portarias de Consolidação nº 3 e nº 6/2017. A RAPS integra serviços em todos os níveis do SUS — da Atenção Primária às estratégias de reabilitação psicossocial — garantindo acesso oportuno, cuidado contínuo e territorializado. A Atenção em Saúde Mental na rede da SES-DF é organizada em níveis de atendimento, com critérios definidos para direcionamento conforme as necessidades específicas dos usuários. Esse direcionamento não se baseia exclusivamente em diagnósticos, mas também considera sinais e sintomas de agravamento psíquico, aspectos multifatoriais do sujeito, como grau de funcionalidade, avaliação psicossocial abrangente e os recursos disponíveis na rede. Dessa forma, atendimentos biopsicossociais podem ser realizados nas Unidades Básicas de Saúde (Atenção Primária), enquanto outros podem demandar serviços de maior densidade tecnológica, como as Policlínicas, os CAPS e ambulatórios especializados (Atenção Secundária), ou, em situações específicas, atenção hospitalar (Atenção Terciária). Por conta dessa estrutura da RAPS, não é possível aferir um valor exato do investimento em saúde mental na rede pública, uma vez que a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está inserida em todos os níveis de atenção do sistema de saúde, desde a atenção primária até a alta complexidade. Dessa forma, os custos relacionados à saúde mental acabam sendo diluídos dentro do orçamento geral de cada nível de atenção. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por exemplo, o valor não aparece de forma individualizada, mas integrado ao custo global de manutenção e funcionamento da unidade. Além disso, os recursos destinados à construção de novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são contabilizados apenas em relação à parte estrutural da obra, não incluindo despesas de custeio e manutenção do serviço. De maneira geral, estima-se que o investimento médio nos serviços especializados em saúde mental gire em torno de R$ 285 milhões anualmente e serão investidos 28 milhões na construção de 5 novos CAPS. Esclarecemos que porta de entrada preferencial para os atendimentos é a Atenção Primária à Saúde, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), responsáveis pela avaliação inicial, manejo dos casos e encaminhamentos quando necessários. Também é possível procurar diretamente um dos 18 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que ofertam cuidado especializado a pessoas em sofrimento psíquico grave e persistente, atuando tanto na prevenção do suicídio quanto na intervenção em situações de crise. Nesses serviços, as equipes multiprofissionais realizam atendimentos individuais, grupos terapêuticos, acompanhamento psicossocial e ações de inclusão social, em articulação com políticas intersetoriais. Apenas no período de janeiro a junho de 2025, os Caps realizaram mais de 199 mil atendimentos. Para situações de risco agudo — como ideação suicida com planejamento, tentativas em curso ou alteração grave do juízo crítico — o acesso deve ocorrer pelas portas de Urgência e Emergência do SUS ou pelo SAMU 192, que no DF conta com o Núcleo de Saúde Mental (NUSAM), equipe especializada para esses atendimentos. Há ainda pronto-socorro psiquiátrico de referência no Hospital São Vicente de Paulo (24h). O suporte também é oferecido no pronto-socorro do Hospital de Base e suporte em UPAs e hospitais gerais, conforme a gravidade. Um projeto piloto em andamento também viabilizou a inclusão de psiquiatras em algumas UPAs, fortalecendo a resposta às situações de crise. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços de saúde de base territorial, abertos e comunitários, são voltados ao atendimento de pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, bem como aquelas com sofrimento psíquico decorrente do uso prejudicial de álcool e outras drogas. As equipes dos CAPS atuam de forma interdisciplinar, articulando-se com a rede de atenção e os recursos do território. Atualmente, o Distrito Federal conta com 18 CAPS em funcionamento sendo 07 CAPS AD voltados para o atendimento de pessoas com transtornos decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas, com equipe multiprofissional especializada para o tratamento, distribuídos entre diferentes modalidades, conforme o perfil populacional, a faixa etária atendida e a complexidade do cuidado requerido." Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.