Mulher é presa por injúria racial após perguntar se cliente negra era 'empregada' em bar no DF
Discussão em bar termina com mulher presa por injúria racial Uma mulher de 46 anos foi presa em flagrante no Distrito Federal, na noite desta quarta-feira (19...
Discussão em bar termina com mulher presa por injúria racial Uma mulher de 46 anos foi presa em flagrante no Distrito Federal, na noite desta quarta-feira (19) – véspera do Dia da Consciência Negra –, após cometer ofensas raciais durante uma discussão em um bar. O bate-boca começou na fila do banheiro, após ela perguntar se uma outra cliente, uma mulher negra, era "empregada" do local. A vítima, Francyslane Vitória da Silva, é enfermeira. Ela contou à TV Globo que estava no Ordinário Bar e Música, no Setor Bancário Sul, para comemorar o aniversário de amigos. "Eu fui ao banheiro, e a fila estava intransitável. Pedi licença para essa moça, que estava na fila, e a partir disso ela começou a me ofender. Me perguntando se eu era empregada, perguntando não, afirmando mesmo: 'Você é empregada desse lugar, você trabalha aqui'", relata Francyslane. "Eu perguntei para ela: 'Por que você acha que eu sou empregada desse espaço? O que te faz pensar isso?' Aí, ela percebeu o que tinha feito e falou: 'Ah, mas não venha com graça não, porque também sou uma mulher negra'. Eu falei: 'Se você é uma mulher negra, sabe que não poderia estar falando isso'." Francyslane Vitória da Silva, vítima de injúria racial em bar do DF TV Globo/Reprodução Francyslane conta que a agressora não pediu desculpas e que, diante da confusão, a gerente do bar chamou a polícia. Um policial militar ainda tentou convencer Francyslane a não registrar boletim de ocorrência, dizendo que injúria racial era um crime inafiançável. A vítima insistiu, e o grupo foi levado à 5ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). Seis pessoas prestaram depoimento, e a autora das ofensas racistas foi presa e indiciada por injúria racial. A mulher, que trabalha como assistente social, foi solta em audiência de custódia nesta quinta-feira (20), mas deve cumprir quatro medidas cautelares: não sair do Distrito Federal por mais de 30 dias; comparecer às audiências do processo na Justiça; não mudar de endereço sem informar as autoridades; não voltar ao Ordinário Bar e Música, onde as ofensas foram ditas. Em nota (leia íntegra abaixo), o Ordinário afirmou que "lamenta profundamente o episódio de racismo", e que reafirma seu compromisso como um ambiente seguro e acolhedor. O bar afirmou ainda que vai reforçar o treinamento dos funcionários sobre como reagir a episódios como esse, e que oferecerá apoio contínuo à cliente agredida. 'Expressão errada', diz acusada Em depoimento, a mulher presa por injúria racial afirmou que usou a "expressão errada", mas de fato queria perguntar se a vítima das agressões era funcionária do local. "Quando teve o problema na fila do banheiro, a autora quis perguntar para a vítima se ela era funcionária do estabelecimento, para tentar colocar ordem naquele momento de caos. [...] Mas ela não usou o termo 'funcionária', usou o termo 'empregada'", diz o delegado da 5ª DP, Sérgio Bautzer. "Para as pessoas que estavam com a vítima, houve conotação racista. A própria vítima ficou muito, muito emocionada. Ela prestou um depoimento de 10 a 12 minutos, ela se diz vítima mesmo de crime de racismo", completa. Na entrevista à TV Globo, Francyslene voltou a se emocionar ao pedir que o caso não fique impune. "É uma mistura de dor, de impotência, de solidão, de insegurança, porque você sai de casa para se divertir, comemorar com os amigos, que tinham três pessoas fazendo aniversário nesse dia, e você passa por esse processo de violência. Todo mundo que me conhece, que vai naquele espaço, sabe que eu sempre vou", afirmou a vítima. "Eu não acho que ninguém tenha que me diminuir por conta da cor da minha pele, no dia de hoje, 20 de novembro. Ser empregada, ser trabalhadora daquele espaço não é nenhum dos problemas, mas é [a forma] como ela fez, falou sobre isso. Como se, por ser uma mulher preta, eu só serviria para estar nesse local de servir a ela ou a outras pessoas. E não é assim, porque pessoas pretas podem ser o que elas quiserem", seguiu. Dia da Consciência Negra: histórias de orgulho e resistência O que diz o bar Leia abaixo a íntegra do posicionamento do Ordinário Bar e Música: O Ordinário Bar e Música lamenta profundamente o episódio de racismo na noite de ontem. Racismo é crime e não há espaço para nenhum tipo de discriminação em nosso estabelecimento ou em qualquer outro lugar. Reafirmamos nosso compromisso em ser um ambiente seguro e acolhedor para todos os frequentadores e em não tolerar atitudes preconceituosas. Em situações como essa, seguimos procedimentos que incluem acolher a vítima, garantir sua segurança e auxiliar no acionamento das autoridades competentes. Conforme apurado por meio do relato da cliente e de nossa equipe, esses protocolos foram seguidos, o que não diminui a gravidade da situação e o impacto causado. O relato da cliente foi encaminhado integralmente aos líderes e sócios da casa. Todas as recomendações recebidas serão incorporadas a um reforço de treinamento que será realizado com nossa equipe. Seguiremos aprimorando nossos processos e capacitações para garantir que situações como essa sejam tratadas com a seriedade necessária. Nos colocamos à disposição para oferecer apoio contínuo à cliente e para colaborar com quaisquer desdobramentos legais do caso. Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.